No tempo da minha infância
As coisas eram diferentes
Os filhos respeitavam os pais
Era um povo mais decente
Filho de pobre não estudava
Mas eram muito inteligentes.

Assim mesmo era gostoso
A noite a gente brincava
Meu pai pegava uma lona
Na calçada forrava
Esperava os amigos
Pra contarem piadas.

Vinha muitos vizinhos
Traziam suas crianças
Pra ouvirem as histórias
Ainda guardo lembranças
Falavam de lobisomem
Almas, papa figo e onça.

A gente ficava com medo
De perto dos pais não saia
Deitado em cima da lona
Ali mesmo dormia
Enquanto eles não se recolhessem
A gente não se recolhia.


Era um tempo bom
Nas belas noites de lua
Jogavámos bola de meia
Era no campo ou na rua
Eu, meus amigos e Antônio
Ficavámos empoeirados
Com os dedos lascados
Precisando tomar banho

Era tantas brincadeiras
No tempo da infância
Futebol, bola de gude
Nunca tiro da lembrança
Ainda tenho saudade
Por isso tenho vontade
De voltar a ser criança.

Lembro de alguns amigos
Por eles tenho carinho
Zelino, quinha e Arlindo
Zeca e Antônio Martins
Zequinha,Toinho, Manuca
Fernande, Omar e Nicinho.

Bitota, Severino e Toinho
Da família dos Cardosos
Minha Tuta, Antônio Roque
Eram amigos bondosos
José Lopes e Chiquinho
Eram todos maravilhosos


Meu amigo Naldinho
Tota de José Firmino
Josias, zitnha de Hosana
Meus queridos primos
Me deixaram em Tapira
Tomaram outro destino.

Foram morar em Cabedelo
Aquela bela cidade
Aonde voltaram a estudar
Mostraram capacidade
E eu fiquei em Tapira
Não tive oportunidade.

Quando tinha 12 anos
Perdi mamãe querida
De nome Maria Cardoso
Atrapalhou a minha vida
A mulher que mais amava
Me deu adeus por despedida.

Não pude mais estudar
Ainda hoje eu lamento
Era o que mais queria
Não tive o merecimento
Esses duas perdas
Ainda me rói por dentro.


Quando tinha 07 anos
Estudava e trabalhava
Cinco horas da manhã
Meu pai me acordava
Para ir em busca dos animais
E depois vinha a enxada.

Para capinar o mato
Dentro da plantação
Do milho, arroz, a fava
Batata, inhame e feijão
Também cultivava cana
Cortava lenha, fazia carvão.

Trabalhava o dia todo
E não ficava cansado
Ainda brincava pela noite
Sempre fui preparado
Mas o velho meu pai
Me deixava assustado

Quando ele ia dormir
A gente fugia pra brincar
Quando ele se acordava
Se ouvia o búzio tocar
Era ele nos chamando
Para vim logo se deitar


Antônio era o mais velho
Já entrava na porrada
Ele dizia que eu só ia
Porque ele me chamava
Corria pra minha rede
E do castigo me livrava.

No meu tempo de criança
Era diversas brincadeiras
Coelho passa, beijarar
Melancia, barra bandeira
Jogo de castanha com patacho
Tica, anel e baladeira.

Aquilo era muito bom
Para o exercitar o corpo
Para enfrentar o trabalho
A correria era sufoco
Erámos todos magrinhos
Por fazer tanto esforço

Hoje é muito diferente
Poucos brincam correndo
Ficam agarrado no celular
Muitos já adoecendo
Estão ficando obesos
A vida toda sofrendo.


Sou do tempo de abano
Nosso fogo era no chão
Torrava café num caco
Batia dentro dum pilão
Minha mãe batia tanto
Que fazia calos nas mãos.

Era o caminho da roça
O pensamento em Maria
As folhas verdo do mato
A chuva quando caia
Passarinho, rio, mormaço
E a natureza sorria.

Sentia o cheiro do mato
A vida que me cabia
Não tinha sonho porém
As coisas acoteciam
Queria um fruto eu caçava
Achava o fruto eu comia.

Da morte não tinha medo
A morte eu não conhecia
Não tinha nenhum segredo
Andar no mato sem guia
Nunca era tarde nem cedo
Era noite ou era dia.


Montei a cavalo sem cela
Joguei bola de meia
Fui pescador e engraxate
Menino fogo nas veias
Pivete bola de gude
Criado dentro da areia.

Fui menino pistoleiro
Menino roda pinhão
Menino fui sapateiro
Menino carro de mão
Menino fui cangaceiro
Manino fui lampião.

Menino fui inteligente
Menino gostava de estudar
Quando não tinha aula
Dava vontade de chorar
Estudava pela manhã
Pela tarde ia trabalhar

Quando eu não ia pra escola
Ficava muito revoltado
Queria estudar todo os dias
Fosse domingo ou feriado
Menino não tive sorte
Menino cuidava de roçado.


Hoje é muito diferente
Menino pode estudar
Houve grande evolução
Intenert, computador, celular
Mas sem esses aparelhos
Muitos não sabem nem somar.

No meu tempo de criança
Tinha carta de abc e tabuada
Depois vinha a cartilha
Deixava a criança preparada
Pra enfrentar o primeiro ano
Precisava está qualificada.

Hoje as crianças passa de ano
Mesmo sem ter nota
Não sei que lei é essa
De onde veio a proposta
Deixa as crianças sem qualidade
Nunca vai ter oportunidade
De passar num concurso
Vem gente de outro lugar
Lucena não pode enfrentar
Sem armas e sem cartuchos.