Vou contar uma história
Essa nunca esquecida
Na cidade de Lucena
Ao norte da paraiba
Na praia de Costinha
Onde os piratas tinham
A conciência perdida.
Em 1912
Iniciou na Paraíba
A caça as baleias
Que hoje é proibida
Os animais inocentes
Procuravam água quente
Aonde perdiam a vida.
Vinham das águas frias
Procurando um novo lar
Em busca de águas mornas
Para parir e agasalhar
Amamentar os filhotes
Encontravam a morte
Nesse novo lugar.
A pesca foi iniciada
Por um empresário holandês
De nome Julius Von Shosten
Primeiro explorador da vez
Responsável pela montagem
Investiu bem na estalagem
Uma boa obra ele fez
Ele escolheu Costinha
Município de Santa Rita
Hoje pertence a Lucena
A cidade mais bonita
O povo lembra das baleias
Mortas naquela areia
Caçadas na injustiça.
Costinha o melhor local
Para o baleeiro atracar
Deixar as baleias na praia
Sem outro barco ajudar
Único lugar que deu certo
Pra realizar o processo
Sem a nada pertubar.
Além da água potável
Do encontro mar e rio
Falo do Rio Jacuípe
Que era bastante frio
Ainda tinha a boa oferta
Da energia elétrica
Venceu assim o desafio.
O lugar era propício
Tinha passagem correta
Para o navio baleeiro
Cumprir ali sua meta
Um canal limpo sem areia
De maré baixa ou cheia
Uma missão completa.
O fato de ser Costinha
Afastada da povoação
Que poderia se incomodar
Com odor e decantação
Tinha que ter a prática
Para desviar a fumaça
Para outra direção
Com a chegada da pesca
Naquela localidade
O povo ficou feliz
Iam ter oportunidade
De fichar sua carteira
Pra garantir sua feira
Com mais dignidade
Segundo o povo fala
Que o navio baleeiro
De nome Dantas Barreto
Foi um dos primeiros
Depois veio o Belmont
Junto com o Cabo Branco
Eram bem mais ligeiros
Ainda resta lembrança
Daquele tempo passado
Do navio Dantas Barreto
Que foi muito utilizado
Na pesca da baleia
Hoje só resta na areia
Pedaços dele enterrado.
Meu caro amigo leitor
Quando vir a Costinha
Você vai encontrar
Nessa bela prainha
Restos do Dantas Barreto
Parte de seu esqueleto
Ferragem virou farinha.
Em 1928
Vendeu ao um grupo pernambucano
De nome Mendes Lima e Cia.
Apalavrou foi logo comprando
Só onze anos passou
Muito dinheiro ganhou
Vendeu pra outro fulano
Este deu continuidade
Chegou cheio de planos
Achou boa a proposta
Aí foi logo pagando
Veio de outra nação
Seu nome Samuel Galvão
Passou a ser o novo dono
Com esse empreendedor
Houve várias mudanças
Dois rebocadores comprou
Aposentou o velho Dantas
Criou novas estratégias
A produção aumentou
Assim cresceu o valor
De seu negócio e moeda.
O nome dos rebocadores
Ou navios baleeiros
Cabo Branco e Belmont
Custaram muito dinheiro
Navegavam pelo Sul e Norte
Levando o rico transporte
Eram bem mais ligeiros.
Durante essa gestão
Situação era degradante
Haviam barracos de palha
Amarrados com barbante
Não tinham diplomacia
Higiene pouco havia
Limpeza passava distante.
O povo ali trabalhava
O salário pouco valia
Levava carne pra casa
Para sustentar sua cria
Cuidar da alimentação
Farinha, arroz e feijão
Era assim o dia a dia
Carne tinha de montão
Muitas vezes se perdia
Não faziam charqueada
Não tinham sabedoria
Um processo delicado
Ninguém era qualificado
Para realizar a filosofia
Em 1959
Chegou um grupo japonês
De nome Nippon Reizo Kabushiki Kaisha
Novo explorador da vez
Tonou-se um grande empreendimento
Melhor estrutura no momento
Conquistou de vez o freguês
Foi grande a evolução
Com esse grupo japonês
Eram bem mais práticos
Pra saciar o freguês
Aumentaram a quantidade
Numa grande velocidade
Produção de um ano em mês
Cia. de Pesca Norte do Brasil
Nome da firma japonesa
Sua sigla Copesbra
Explorava a natureza
De uma forma muito feia
Capturavam as baleias
Sem nenhuma defesa.
Foi um grande investimento
Importante pra região
Os preços dos derivados
Tudo dentro do padrão
Oferta bem procurada
Toda região comprava
Satisfazia a população
A carne da baleia
Comercializada em Lucena
Era muito importante
Em parte valia a pena
O povo comia e gostava
Levava sempre pra casa
Tinha vermelha e morena.
Valores muito abaixo
Da nossa carne bovina
Aonde o povo da região
Gostava da proteína
Aprendeu comer baleia
Viviam de barriga cheia
Aquilo virou rotina.
Na gestão dos japoneses
Foi grande a ambição
Matavam sem limite
Aumentaram a produção
Média de 800 por ano
Assim entraram pelo cano
Provocando a proibição.
Dessa época vou falar
Do dia dia do baleeiro
Saia as 04h da manhã
A bordo seus marinheiros
Abasteciam o canhão
Com cabo, espoleta e arpão
E entregavam ao artilheiro.
Na distância de 30 milhas
Já avistavam as baleias
Aí começava o massacre
Com essas lindas sereias
Mink, Azul e Jubarte
Cachalote e espadarte
Trágico fim na areia
Ao ceifar-las iam deixando
Elas amarradas nas bóias
Ali era ligado um chip
Pra não perder as jóias
Aplicavam injeção de ar
Para elas não afundar
Japas, corações de jibóia.
O sangue burbulhava
Era de cortar coração
Todas com a lígua de fora
Atraindo o tubarão
Quando o navio voltava
De uma em uma apanhava
Nunca perdiam a produção.
Amarradas pela cauda
Elas eram rebocadas
Até chegar na fábrica
Onde eram cortadas
Enquanto o navio viajava
O tubarão acompanhava
Dando boas abocanhadas
Quando a sirene tocava
Avisava ao trabalhador
Que o navio tava chegando
Podiam preparar o vapor
Arriar o cabo de aço
Tudo num pequeno espaço
Feito com muito rigor.
Com o toque da sirene
O povo se entusiasmava
Para ver o navio chegar
Corriam de suas casas
Juntos com os turistas
Eram tantos artistas
Na praia já esperavam.
Quando o navio chegava
Era grande a alegria
Ninguém queria saber
O quanto a baleia sofria
Na piscina eram lavadas
Para serem retalhadas
Em mais de cem fatias.
Partes melhores das baleias
Sempre eram exportadas
Para o mercado internacional
Muito bem processadas
Era mandada pra o Japão
O Brasil ficava com a opção
Dos restos que sobrava.
Operários da charqueada
Eram muito explorados
Labutavam dia e noite
Pareciam até escravos
A turma quase não dormia
E pra ganhar uma mixaria
Só trabalhavam cansados.
Quando iniciou a pesca
Era uma cota reduzida
O objetivo era o óleo
A carne era esquecida
O povo com pouca arte
Para realizar o abate
Partes eram perdidas
Baleias capturadas
Na costa paraibana
Vendiam a carne, o óleo
Ossos e barbatanas
A carne fresca exportavam
A parte seca separavam
Pra cidades litorâneas
As espécies das baleias
Que eram capturadas
Mink, Azul e Jubarte
Eram mais procuradas
Já a Espadarte e Cachalote
Dependia muito da sorte
Para concluírem a caçada.
Além de extrair o óleo
A carne era separada
Para vender no exterior
A de primeira selecionada
No Brasil de segunda e terceira
Eram vendidas nas feiras
Ainda faziam charqueada.
A venda dos derivados
No mercado regional
Também fora do Brasil
Pra eles era natural
Barbatana, carne e óleo
Aquilo virou monopólio
Coisa fora do normal.
Como a carne de charque
Costumava ser processada
Primeiro fazia as fatias
Em água à 24 graus descansava
Depois pra salgadeira
Só a de segunda e terceira
Aproveitavam pra charqueada.
Depois de 24 horas
Virava pra o segundo sal
Ficava mais oito dias
Mais tempo não fazia mal
Mais uma vez virava
Depois prensava e lavava
Concluíam assim o ritual
Com a carne já seca
Levavam para o galpão
Aonde era embalada
Em caixotes de papelão
Depois era vendida
Na Bahia, Recife, Paraíba
Transportada em caminhão.
Brasileiros trabalhavam
Ganhavam uma mixaria
Não dava pra viver
Daquela ninharia
Lutavam dia e noite
Padecendo num açoite
Sem nenhuma regalia.
O ganho dos japoneses
Trinta ou mais salários mínimos
Dava pra comprar casa
Também carro granfino
Viajavam com a família
Com seus filhos e filhas
Nativos por conta do destino.
Foram tomando gosto
Aumentaram a produção
Capturavam até mil por ano
Ocasionando a extinção
Os órgãos ambientais
Viram que tava demais
Forçaram a paralisação.
Em 1985
Foi decretada a proibição
Presidente José Sarney
Atendeu a grande nação
E os órgãos ambientais
Porém esqueceu os pais
Da pequena povoação.
O povo não tinha culpa
Pela matança das baleias
Só queriam seus empregos
Viver descentes na aldeia
Poder sustentar a família
Viver feliz nessa ilha
Manter a barriga cheia.
O povo já está farto
Tantas falsas promessas
Entra e sai governantes
Sempre a mesma conversa
Ainda hoje se espera
Uma pessoa sincera
Pra fazer a coisa certa
Na época da proibição
Da pesca na comunidade
Viram outras alternativas
Tentaram outras atividades
O povo na expectativa
De viver melhor a vida
Ter outra oportunidade
Criaram outros projetos
Para evitar o desemprego
Explorar os frutos do mar
Siri, ostra e caranguejo
Até polos de confecção
Também viver da plantação
Criar novos empregos
O povo já não acredita
Nessas falsas promessas
Uns viam a matança
Como uma coisa certa
Eram capazes de brigar
Quando ouviam falar
Que foi melhor o fim da pesca.
Aqui veio muita gente
Com conversa bonita
Professores da faculdade
Também ambientalistas
Um trouxe boa solução
Foi o mestre Falcão
Este nunca foi egoísta
Mostrou outras alternativas
Para o povo da região
Rede, bote e barqueira
Pescar peixe e camarão
Não esqueceu este lugar
Nunca deixou de lutar
Por todos nossos irmãos.
No período da pesca
Praias aqui eram um perigo
O tubarão aqui rondava
Pelo o sangue era atraído
O pescador se assustava
Muitas vezes não pescava
Por medo do atrevido.
Atualmente o povo vive
Em processo de reorganização
Os velhos se aposentaram
Os jovens tem outra visão
Preferem logo estudar
Para depois trabalhar
Numa nova profissão
Lucena, a pesca artesanal
Ainda é a uma opção
Estudar o melhor caminho
Para formar o cidadão
Professores, enfermeiras
Marinheiros ou marisqueiras
Conquistar uma profissão.
Todos vão se virando
Buscando ganhar o pão
Moto táxi, alternativo
Outros tem nova visão
Uns são agricultores
Muitos empreendedores
Seguem sua vocação.
Hoje muitos esqueceram
Poucos falam das baleias
São mais inteligentes
A matança é coisa feia
Muitos estão a estudar
Lutando pra se formar
Viver melhor na aldeia
Atualmente nossa cidade
Tá bem melhor que antes
Não há casas de palha
Amarradas com barbantes
Todos vivem com alegria
Casas só de alvenaria
Belas e aconchegantes.
Antes os japoneses
Exploravam o trabalhador
Ofereciam casas de palha
Salário não tinha valor
Escutei uma história
Que mandaram um embora
Porque uma vez reclamou.
O povo reclamava
Do salário insuficiente
Eles logo respondiam
A culpa é do presidente
E dos seus deputados
Nunca estão preocupados
Como vive sua gente.
Tinha bastante emprego
Para o povo da região
Aonde o trabalhador
Descolava seu tostão
Só viviam no sufoco
Com a corda no pescoço
Mal comprava alimentação
Quando a pesca parou
Aumentou o pesadelo
O povo ficou sofrendo
Foi grande o desespero
Foi fechado o lugar
Do pobre trabalhar
E ganhar algum dinheiro.
Até pagavam em dia
Mas o grande defeito
Era o mísero salário
E o povo insatisfeito
Aquilo era um cativeiro
Ganhar muito dinheiro
Só eles tinham direito.
Hoje ainda tá faltando
Os nossos dirigentes
Fazerem alguma coisa
Para ajudar nossa gente
Que ainda vive da pesca
Lembrando das promessas
Que ouviam antigamente.
Toda região de Lucena
Tem a pesca de opção
Para ter a barriga cheia
Basta ter disposição
Tem ostra, marisco, aratu
Siri, caranguejo e sururu
Além do peixe e o camarão.
Hoje esta cidade tem
Algumas alternativas
Coco do vale, Coco Lucena
Estão sempre na ativa
Empregam muita gente
Basta ser descente
Para se dar bem na vida.
Também a prefeitura
Recruta muita gente
Gari, agente de saúde
É bom ser eficiente
Na saúde, na educação
Motorista de caminhão
Basta ser competente
Ainda tem o turismo
Uma rica opção
As praias ficam lotadas
Principalmente no verão
Estão sempre a procurar
Lanche, almoço e jantar
A cerveja com camarão.
Bares e restaurantes
Vendem muitas bebidas
Tem os supermercados
Também são alternativas
Outros com seu carrinho
Vendendo um espetinho
Procurando uma saída.
Alguns ainda esperam
As promessas do passado
Só que de tanto esperar
Já ficaram cansados
Muitos já morreram
Outros até esqueceram
Tem sempre alguém lembrado.
Durante a pesca da baleia
O povo se acomodava
Não ligava pra estudo
Sabia que trabalhava
Agora é tudo diferente
São mais inteligentes
Aprenderam o dever de casa.
Pesca da baleia foi extinta
Em nosso grande país
Depois de 384 anos
De uma atividade infeliz
O governo José Sarney
Encerrou de uma vez
Deixando a nação feliz.
Um dos principais produtos
Que atendia a outra nação
Falo do mercado japonês
Pra onde ia a exportação
Melhores partes iam pra fora
O pagamento era em dólar
E o Brasil ficando na mão
As espécies capturadas
Hoje vivem em extinção
Exageraram na matança
Foi grande a exploração
Pescavam até as prenhas
Todas iam pra lenha
Ameaçando a geração.
Aqui estou encerrando
Essa pequena história
Falei da pesca da baleia
E de toda sua trajetória
As baleias hoje estão em paz
Pesca predatória não há mais
Vivem sem preocupação
De procriar seus filhotes
No lado sul ou norte
Garantindo a geração.
